A iluminação natural em edifícios e o ROI da companhia: ritmo circadiano.
- Erika Ciconelli De Figueiredo
- 20 de abr.
- 5 min de leitura

No mundo das luminárias de LED, a importância da luz natural em edifícios pode ser questionada. No entanto, os benefícios da iluminação natural vão além da questão da economia de energia. A iluminação natural nos edifícios pode refletir no Return On Investment (ROI) da empresa e, consequentemente, no ritmo circadiano dos colaboradores.
De modo geral, os edifícios de escritório priorizam pouco a luz natural nos ambientes internos. Mesmo nos edifícios peles de vidro contemporâneos, que usam vidros de controle solar, a prioridade é o controle da entrada do calor devido ao consumo de ar-condicionado. Indubitavelmente este é um ponto fundamental a ser observado, dada as altas temperaturas durante praticamente o ano todo.
Contudo, é necessário ressaltar que, embora o retorno financeiro não seja explícito em uma conta de energia, o bem-estar dos ocupantes pode também trazer um retorno. É nesse contexto que a iluminação natural se torna relevante. À medida que os edifícios de escritório passam a adotar estratégias de projeto que contemplem uma distribuição da luz natural mais eficiente, os ocupantes dos espaços têm a tendência de menor absenteísmo e problemas de saúde, além de aumento da produtividade. Questões essas que impactam uma companhia financeiramente.
A falta da luz natural difusa no ambiente laboral pode desalinhar o ritmo circadiano e resultar em baixa qualidade do sono, sensação de cansaço constante, microssono, irritabilidade, problemas de concentração, falta de motivação, comprometimento da memória, entre outros. Algumas consequências a longo prazo são: estresse fisiológico e psicossocial, doenças cardiovasculares, aumento do uso de estimulantes e sedativos, e síndrome metabólica (Foster, 2020). O impacto negativo na saúde do colaborador resulta em um aumento do uso dos planos de saúde, outro impacto no lucro da empresa.
O que é ritmo circadiano?
O ritmo circadiano, também conhecido como relógio biológico, é o mecanismo que regula o organismo de acordo com o ciclo do dia e da noite. O ritmo circadiano controla não somente as fases de sono e despertar, como também o batimento cardíaco, a pressão arterial, a temperatura corporal, o desempenho, o humor e a produção de hormônios, como a melatonina e o cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. O ritmo circadiano oscila em uma média de 24.2 horas na ausência de indicadores exteriores de tempo. Os padrões diários de claro-escuro (dia e noite) incidentes na retina configuram o relógio biológico, ajustando o seu timing para corresponder com o padrão de 24h (Figueiro; Nagare; Price, 2018).
A luz que atinge os olhos conduz respostas não-visuais, como a supressão da secreção de melatonina, conhecida como o hormônio do sono, e o estabelecimento do ritmo circadiano. Até o fim do século XX acreditava-se que apenas os cones e bastonetes eram as células fotossensíveis do olho, no entanto, no início do século XXI descobriu-se uma terceira classe de fotorreceptores: as células ganglionares intrinsecamente fotossensíveis (ipRGCs), que são responsáveis por sincronizar o ritmo circadiano (Brown, 2020). Pesquisas publicadas sobre o assunto, que comparam iluminação artificial e natural desde a década de 1990, indicam que a iluminação tem um efeito estimulante sobre as pessoas, sendo que a luz natural é a mais efetiva (Figueiro; Nagare; Price, 2018).
O cenário dos edifícios de escritório
Este assunto ainda é pouco familiar à maioria dos arquitetos, o que resulta em projetos de baixo desempenho da luz natural. Segundo Mardaljevic, Heschong e Lee, o cenário mais comum em edifícios com peles de vidro é o de persianas abaixadas e luzes acesas, sendo que, por uma questão de comodismo, estas persianas podem ficar abaixadas por dias, meses ou até mesmo anos (Rea, 1984). A ocorrência deste cenário se dá em razão do desconforto visual resultante das altas iluminâncias próximo às aberturas, mesmo em edifícios com vidros de controle solar.
Esses vidros reduzem a entrada de calor e, consequentemente, de luz natural, o que faz com que o alcance da iluminação natural difusa seja limitada e se concentre nas regiões próximas às fachadas, onde há também a entrada de luz solar direta, o que resulta em altas iluminâncias e desconforto por calor. É neste cenário que a maior parte dos edifícios de escritórios se encontra.

O apelo para o uso de grandes panos de vidro nas fachadas, segundo os arquitetos, é a ligação visual do interior com o exterior, no entanto, este cenário se inviabiliza devido ao ofuscamento. O fechamento das persianas é o resultado desse tipo de envoltória, o que impacta diretamente na sensação de bem-estar e na produtividade dos ocupantes do edifício.
ROI: return on investment
A luz natural difusa no ambiente de trabalho favorece a produtividade e a saúde dos funcionários, o que promove um retorno financeiro para a companhia.
O aumento do uso dos planos de saúde empresariais é um assunto recorrente no departamento de Recursos Humanos. Muitas empresas relatam que grande parte da procura dos planos de saúde é por questões de saúde mental e depressão dos colaboradores, outro ponto que a iluminação (tanto natural, como artificial) de qualidade dos ambientes pode favorecer a todos.
Como resolver, então?
A solução dos problemas mencionados acima, não é simples, mas ela reside no desenho da envoltória. As proteções solares, ou brises como são comumente conhecidos, são fundamentais para reduzir a entrada de luz solar direta e o ofuscamento.
A combinação de vidros de controle solar com os brises favorece para que os vidros tenham maior transmissão luminosa, melhorando o desempenho da luz natural difusa no interior. Se as proteções solares forem dinâmicas, o resultado pode ser ainda melhor. Ou seja, tanto a solução térmica, como lumínica e de bem-estar dos ocupantes do edifícios residem na fachada.
É importante que os arquitetos considerem incorporar nos projetos os estudos e soluções para iluminação natural em edifícios. Há a necessidade de uma mudança cultural, onde as questões de bem-estar dos usuários se equiparam às de consumo de energia.
Referências
BROWN, T. M. Melanopic illuminance defines the magnitude of human circadian light responses under a wide range of conditions. Journal of Pineal Research, Nova York, v. 69, n. 1, p. 1-14, 19 abr. 2020. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/jpi.12655.
FIGUEIRO, M.G. NAGARE, R.; PRICE, L.L.A. Non-visual effects of light: how to use light to promote circadian entrainment and elicit alertness. Lighting Research & Technology, [S.L.], v. 50, n. 1, p. 38-62, 25 jul. 2017. SAGE Publications. http://dx.doi.org/10.1177/1477153517721598.
FOSTER, R. How Light Exposure Affects Human Health. In: SLL LIGHTING RESEARCH & TECHNOLOGY SYMPOSIUM, 1., 2020, Londres. How Light Exposure Affects Human Health. Londres: CIBSE, 2020. Disponível em: https://bit.ly/32jnNlj.
REA M.S. Window blind occlusion: a pilot study. Building Environment, 19, 1984, p. 133-7.
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